quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Perfeição de Deus

Durante um jantar de uma obra de caridade, o pai de uma criança deficiente mental apresentou um discurso inesquecível:
«Diz-se que Deus tudo faz com perfeição… Onde está a perfeição de Shay, o meu filho?
O meu filho não consegue compreender as coisas como as outras crianças. O meu filho não se pode divertir como as outras crianças… Onde está então a perfeição de Deus?
Eu acredito que ao criar uma criança deficiente como o meu filho, a perfeição que procuramos em Deus estará na forma como reagimos a esta criança…
Vou contar-vos uma pequena história para justificar a minha proposta.

Uma tarde, Shay e eu andávamos a passear num parque onde se encontravam uns rapazes a jogar Baseball.
Shay virou-se para mim e perguntou: "Pai, achas que eles me deixam jogar?"
Eu sabia que Shay não era propriamente o género de parceiro que os rapazes normalmente procuram, mas mesmo assim ainda tive esperança que deixassem o Shay "fazer uma perninha"... Assim, perguntei a um dos jogadores em campo se seria possível deixar o Shay participar só um pouco…
O jogador reflectiu um bocadinho e disse :
"Estamos a perder por seis pontos e vamos na oitava mão, portanto acho que ele pode entrar na equipa porque temos sempre a oportunidade de recuperar na nona volta".

Shay deu um enorme suspiro!
Disseram ao Shay para calçar a sua luva e tomar posição.
Já no fim da oitava mão, a equipa de Shay marcou alguns pontos mas continuou a uma distância de três pontos. No fim da nona mão, a equipa de Shay ganhou ainda um ponto, mas continuou, ainda assim, com um atraso de dois pontos mas ainda dispondo de uma chance de compor a partida…

Para espanto de todos, deram ao Shay o bastão!
Todos sabíamos ser impossível ele ganhar, pois o Shay não fazia ideia de como fazer a batida, nem como direccionar uma bola.
Logo que Shay se colocou na zona de recepção (base), o lançador avançou alguns passos e atirou a bola com toda a suavidade de forma a que Shay conseguisse ao menos tocar-lhe com o bastão.
Shay bateu pesadamente no primeiro lance, mas sem sucesso!
Um dos parceiros veio em sua ajuda e os dois agarraram no bastão, aguardando o próximo lançamento. O lançador avança de novo e torna a atirar a bola ligeiramente para Shay.

Com o seu equipamento e com a ajuda, Shay bate na bola, mas possibilitando a retoma pelo lançador . Poderia este ter, facilmente, lançado a bola à primeira base, eliminando Shay e o jogo
terminava por aí!
Mas não! O lançador atirou a bola de tal forma alto que aquela caísse bem longe da base.
Toda a gente desatou a gritar : "Corre para a base, Shay! Corre para a primeira base!!!"
Nunca ele tinha tido a oportunidade de correr para uma primeira base!
Shay galopou ao longo da linha de fundo, completamente espantado!
Quando chegou à primeira base, um dos adversários tinha já a bola na mão direita; ele poderia facilmente lançá-la à segunda base, o que de imediato eliminaria o Shay que continuava a correr. Pois, mas ele lançou a bola por cima da terceira base e mais uma vez todos desataram a gritar:
"Corre para a segunda! Corre para a segunda !!!"
Os batedores à frente de Shay aproximam-se da segunda base, o adversário dirige-se para a terceira base e exclama : "Corre para a terceira!"
Quando Shay passa pela terceira, os jovens das das duas equipas começam a gritar:
"Corre o circuito todo, Shay !!!"

Shay completa o circuito, até à zona da recepção E os jogadores pegam-no em ombros. Shay é um herói !!!!
Ele acaba de fazer um grande « Slam » e de ganhar o desafio para a sua equipa.

Nesse dia (lá continuou o seu pai, lavado nas lágrimas que lhe corriam pelos olhos), estes 18 rapazes atingiram o seu próprio nível da perfeição de Deus. »
***

2 comentários:

Dina disse...

Olá,

As pessoas com quem contacto diariamente (terapeutas, assistentes sociais, educadoras), falam-me na aceitação que estas crianças, as nossas, conseguem e da protecção que os amiguinhos e coleguinhas lhes dedicam.

Eu, que tenho mais 2 filhos, sem dificuldades, sei, por experiência própria que as crianças são crueis, procuram, assim como a sociedade em que hoje vivemos "a perfeição", maltratando e desprezando quem é diferente, seja de raça, por ser gordinho, por usar óculo... Os meus dois filhos são lideres inatos, bonitos, simpáticos, sociáveis, elegantes e felizmente nunca tiveram que lidar com esta discriminação.

Mas, eu sei, que com o Afonsinho, TUDO será diferente. NÂO tenho duvidas que os coleguinhos que crecerem com ele vão acarinhá-lo, aceitá-lo e protegê-lo mas, chegado à escola primária, TUDO será diferente e nós mães temos que estar preparadas para os ensinar a lidar com esta situação.

Assim, vou SONHAR, enquanto não preciso enfrentar a realidade e esperar que também o Afonsinho possa ir jogando com pessoas que cumpram a "perfeição de Deus".

Muitos beijinhos

Grilinha disse...

Às vezes nem quero pensar em rigorosamente nada...
Só curtir o dia a dia com o JP. Aproveitar cada um.

Veremos como será o futuro. Por vezes as coisas parecem tão dificeis e sem sabermos como ...tornam-se mais fáceis do que suponhamos.

Afinal o JP tem mesmo um amiguinho novo. Como todas as crianças, mudam muito de amizades nesta fase e ele vai-se adaptando e integrando.
Que assim seja por toda a vida. Continuo a aprender mais com o teu filho e com o meu do que com qq outra coisa nesta vida.

Um beijo