quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Carta De Um Ser Especial a Sua Mãe

«Num raro momento de felicidade, recobrei a consciência e por alguns instantes libertei-me do corpo.
Livre dos embaraços físicos, pedi a Deus a oportunidade de comunicar-me com você.
Sei o quanto sofre ao ver-me no corpo excepcional onde me abrigo como filho do teu coração, por isso quis falar-lhe:
Saiba mãezinha querida, antes de receber-me carinhosamente em seu ventre, eu era um náufrago nos mares espirituais do sofrimento, foi você a praia que me acolheu devolvendo-me a segurança.
Não pense que se eu tivesse morrido ao nascer teria sido melhor para nós dois, é um engano cruel, pois o que mais importa para mim é viver, o seu amor é a força que pode prolongar-me a vida. O corpo disforme que hoje sustenta-me a vida, representa para mim um tesouro de bênçãos onde reeduco o meu espírito aprendendo a valorizar a vida que tantas vezes desprezei.
Sei que sofres por eu não poder dar-lhe as alegrias de uma criança sadia, porém reconforta-me saber que para as mães como você, Deus reserva as alegrias celestiais.
Ser mãe é missão natural das mulheres.
Ser mãe de alguém como eu é missão que Deus só entrega a mulheres especiais como você.
Vou retornar ao corpo, assim como uma ave que retorna ao ninho onde se abriga das tempestades, mas antes rogo a Deus que lhe abençoe, colocando nesta prece a força da gratidão de um filho que teve a felicidade de ter um Anjo como mãe.»

A partilha deste texto é acompanhada com a frase "acho que se eles "nossos anjos guerreiros" pudessem se expressar seria exatamente assim!". Talvez. Eu, como Mãe Especial de um Ser muuuito Especial, quero acreditar que sim, até porque ele voltou para mim todas as vezes que lhe pedi para voltar, colocando o meu coração de Mãe sempre nas mãos de Deus. 
Mas não me consigo ver como um Anjo. Já a ele, não tenho qualquer dúvida!
É reconfortante acreditar que ele, meu filho tão amado, é um Anjo em missão, mesmo que não compreendamos que missão é esta... a do Amor.
 

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A reclamação acerca dos manuais escolares

Como referi há duas publicações atrás, reclamei a não adaptação/adequação dos manuais escolares em formato digital.

Não estava propriamente inspirada naquele dia, como aliás não tenho estado... E também não solicitei ajuda especializada! Sentia-me verdadeiramente indignada. E continuo a sentir. A desconsideração é demasiado óbvia e revoltante.

No intuito que outros encarregados de educação (ou até professores, porque não?) resolvam seguir o meu exemplo e reclamar o que é direito dos alunos com multideficiência e que precisam de mais material escolar adaptado às suas necessidades, resolvi colar aqui o texto que enviei para o Centro de Recursos da Direção Geral de Educação, com conhecimento de uma catrefada de organismos (todos os que me lembrei e que achei que deveriam tomar conhecimento disto e que consigam, de alguma forma, funcionar como elemento de pressão...).

Exm.os Senhores,
Sou Mãe de um aluno do ensino básico, integrado numa unidade de apoio especializado para alunos com multideficência (UAM). O meu filho João é cidadão português, tem 9 anos, é portador de paralisia cerebral e é doente pulmonar crónico. Tenho a esclarecer que paralisia cerebral não significa que tem o cérebro paralisado, como ainda muita gente acredita. O corpo só não corresponde ao que o cérebro quer!  É apenas devido à sua doença pulmonar crónica que aceitei inseri-lo na UAM. Por causa da sua abstenção forçada devido à doença pulmonar. Apenas e só. O cérebro dele funciona muito bem, graças a Deus.
Não tem comunicação oral nem tem motricidade fina, logo não tem capacidade de pegar num lápis com os dedos e escrever. Mas expressa-se muito bem com o olhar.
Portanto precisa de meios alternativos de comunicação, bem como de manuais escolares adaptados às suas necessidades.
Manuais em formato digital, de preferência em formato Word, editável e com caixas de texto e de preenchimento, de forma a que ele (e muitos outros como ele, que acedem ao computador com movimentos laterais de cabeça ou com outras partes de corpo que ainda conseguem comandar) consigam aceder com o varrimento automático.

Venho por este meio expressar a minha indignação ao tomar conhecimento do que este departamento considera a "produção da adaptação de manuais escolares (BD) e produção de outros materiais pedagógicos para apoio a alunos com NEE".

Por sinal os alunos com NEE merecedores desta adaptação de manuais escolares são os alunos surdos e/ou cegos.
Por sinal os alunos (considerados pela afamada CIF) com multideficiência não têm os mesmos direitos.
A razão da minha indignação prende-se com o facto de ter conhecimento que os manuais escolares que a escola do meu filho requereu para ele, no ano transacto, chegaram em formato digital que nem sequer é editável, quanto mais adequado e adaptado às suas necessidades. Limitam-se a pedir à editora que envie os manuais conforme foram para a gráfica e pronto.
Gostaria que me explicassem se este departamento adapta apenas os manuais escolares para braille e investe na produção de audiolivros, mas esquece os outros...
É que, para mim, torna-se claro que isto é uma forma de discriminação.
É uma desatenção para com estas necessidades educativas especiais, é o desencontro das intenções da Declaração de Salamanca (1994) e uma violação aos Direitos das Crianças (1990).
Espero que esta situação seja merecedora da V/ análise e consequente emenda.

«No quadro da equidade educativa, o sistema e as práticas educativas devem assegurar a gestão da diversidade, do que decorrem diferentes tipos de estratégias que permitam responder às necessidades educativas dos alunos.»

Sem outro assunto de momento,
SAA

Já tive algumas respostas pró-forma:
- da Comissão de Educação, Ciência e Cultura "foi dado imediato conhecimento do conteúdo desta exposição, a todos os Senhores (as) Deputados (as) que integram o Grupo de Trabalho Educação Especial."
- do Instituto Nacional para a Reabilitação "solicitou esclarecimentos ao Centro de Recursos da Direção-Geral da Educação sobre o encaminhamento dado à situação do filho de V. Ex.ª.
 Nestes termos, encontramo-nos ao dispor para acompanhar a situação do filho de V. Ex.ª ou para prestar qualquer outro esclarecimento que considere pertinente."
do Gabinete da Presidente da AR "Remetemos também a mensagem à Comissão de Educação, Ciência e Cultura e à Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, atendendo à matéria em causa."
- da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias "foi agora reencaminhada, para apreciação, à Comissão de Segurança Social e Trabalho, atenta a matéria de que é objeto."
  

Curiosamente o Centro de Recursos ainda nem acusou a recepção. Espero que estejam muito ocupados a adaptar e adequar materiais!