Passados cerca de 10 meses do último susto, eis que estamos na mesma situação.
Não propriamente na mesma, mas idêntica.
Os sintomas foram semelhantes, mas o estado agravou muito mais rapidamente, mesmo apesar de não se ter esperado tanto tempo para tomar determinadas medidas.
Infelizmente o João não respondeu à ventilação não-invasiva como seria preferível e teve que ser entubado, uma vez mais.
A febre (apesar de baixa) demorou muito tempo a ceder e a ficar espaçada.
Os acessos de tosse intermináveis, assim como as secreções.
Agora, com a ventilação mecânica, as coisas ainda não estão tão controladas como deveriam.
Finalmente chegaram resultados de umas colheitas que deram positivo para um bicharoco maldito.
(Porque a história de andar a fazer análises há meses e nunca ter resultado positivo para coisa alguma já andava a dar connosco em doidos)
Trata-se de uma bactéria multi-resistente que nem sempre "responde" à antibioterapia.
Cada infecção pulmonar e cada ventilação tem um efeito cumulativo no estado do Pulmão.
Num Pulmão já tão degradado, como o do João nunca sabemos como vai ser daqui para a frente.
Sabemos que as infecções são cada vez menos espaçadas entre si.
Constatamos que a próxima é sempre um bocadinho pior que a anterior.
Sabemos que todas as lágrimas são poucas para a dor que sentimos ao vermos o nosso filho assim, outra vez.
Sabemos que o tempo não perdoa.
Só não sabemos quanto aguenta o corpo dele.
E eu não sei
como aguentam
a dor
da saudade
as mães
e os pais
que conheço
daqui ou dali
que já perderam
os seus
tão amados
filhos
porque
esta dor
que sinto
agora
deixa-me
sem fôlego
sem saber como
ainda consigo
fazer perguntas difíceis
que exigem respostas ainda mais difíceis de dar
e de ouvir