«Rowan saiu da água como um deus do rio e começou a correr de um aldo para o outro na areia da margem, com os braços abertos.
-Voa como um pássaro! Voa como uma águia!
Até que, subitamente, parou, põs-se em bicos de pés e começou a estremecer. Era o "Código Castanho". Levantei-me, preparado para pegar nele e levá-lo para junto dos salgueiros, onde ele pudesse ter maior privacidade. Mas depois mudei de ideias.
- Vá lá, Rowan - exclamei eu, dando por mim a gritar. - Vá lá! Tu consegues! A sério. é só baixares-te um bocadinho e deixar sair.
E lá me baixei eu também (...) a fazer de conta que também estava a fazer cocó. Rowan olhou à volta, com aquele olhar de veado assustado que eu tão bem conhecia.
- Rowan! - Tomoo tinha saído da água e também se tinha posto de cócoras. - Rowan! Olha!
Da água saíram também Michel e Jeremy, de boxers, baixando-se agora também, por entre gritos de encorajamento, numa cena absolutamente ridícula. Do canto do olho conegui ver três dos guias, a observar junto dos salgueiros e a coçar a cabeça. Confuso, Rowan continuava em bicos dos pés, a tremer, com as mãos a abanar no seu jeito autístico.
- Vá lá, Rowan!
O tom era agora já de desespero.
- Vamos! - gritei eu, tentando temperar a minha urgência com fingido humor. - Código castanho! Tu lembras-te! Código castanho!
Rowan pôs-se a correr pela margem do rio, saturado, assustado, confuso, criando distância entre nós e ele. Senti um aperto no coração.
Mas de repente, parou. Pôs-se de cócoras. E fez o que tinha a fazer.
- Não acredito! - grritou Jeremy.
- Bom trabalho - gritei eu também dos mais ou menos cem metros que nos separavam. - Oh, Rowan! Belíssimo trabalho!
- Meu Deus! - exclamou Kristin.
Pus-me aos saltos e aos gritos.
- Não acredito! é como ver a Inglaterra a ganhar o Mundial!
(...)
Olhámos mais uma vez para Rowan. Este encaminhou-se para a beira do rio, baixou-se e lavou-se com água. Sozinho. Tinha tido o seu primeiro movimento intestinal voluntário e agora estava a limpar-se.
(...)
- ESTOU TÃO ORGULHOSO DE TI! - gritei eu à distância, com as minha palavras a ecoar ligeiramente na água. - SIM. DE TI, ROWAN! MEU FILHO! ESTOU TÃO ORGULHOSO!»
*
Do livro que acabei hoje de ler:
"O menino e o cavalo - a extraordinária viagem de um pai para curar o filho"
de Rupert Isaacson
*
Rupert Isaacson tinha sonhado o melhor para o filho, imaginava as brincadeiras, as conversas, os passeios... Depois de Rowan nascer, porém, começou a perceber que o seu sonho nunca se iria realizar. O menino não falava, não reagia, refugiava-se no seu mundo, fechado numa concha invisível. Era autista.
É a história real, extraordinária, de um pai que vai até aos confins do mundo para curar o filho. É a aventura de uma família única, que arrisca tudo, movida por uma fé inabalável. E que, nas distantes estepes da Mongólia, consegue finalmente o milagre de abrir aquela concha e entrar no mundo misterioso de Rowan.
(a propósito deste post)
Sim, isto fez-me chorar!
Porque aquilo que a maior parte dos pais têm como garantido, é tão banal que nem dão importância...
Já os pais de crianças especiais sentem e vibram, assim, a mais ínfima conquista dos seus filhos.
4 comentários:
como vibram! eu sei do que falo o A. também é um "menino especial" aliás muito especial mesmo!
adoro o vosso blog e sigo com muita atenção também vos vi no programa de SIC. Parabéns grande Mãe, grande familia, filho lindo!
tudo de bom!
isabel
Sentimos muito...uns pelos outros...buscando a esperança noutros meninos especiais e valorizando cada suspiro e cada gracinha.
Adorei certas passagens desse livro. Um pai muito especial. Sem dúvida.
porque tudo requer muito mais esforço e por isso também é muito mais saboroso!
viste ontem o programa do Salvador na 1?
parece que o chamar a atenção e o "vencer das limitações" estão finalmente a "ganhar espaço e visibilidade", até na TV.
Pois estimo bem é q tu consigas conkistas diarias e te possa emocionar com isso sempre q algo de novo e inesperado aconteça, espero mesmo.
Beijos e abraços
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