domingo, 27 de setembro de 2009

Caminhos


Há dois dias atrás, ao conversarmos acerca da nossa recente experiência televisiva, a Madrinha Piquenina, relembrou uma situação de há 4 anos atrás.


Precisamente o episódio da transferência do JM para a UCI do HSM para ser ventilado pela primeira vez...

Como contei no programa, soube que ele iria ser transferido durante o almoço (o único dia que fui a casa para dar os Parabéns ao meu irmão), pedi boleia a um amigo da altura e assim que cheguei ao hospital fui saber todos os pormenores inerentes. Enquanto preparavam a transferência e se aguardava a ambulância vim cá fora ter com os amigos que estiveram sempre presentes naqueles longos dias...

E o que a Madrinha me disse foi isto:
«Nunca mais me esqueço daquele dia (...) vieste cá fora e deitaste duas lágrimas, uma de cada olho. Limpaste a cara e "já está"»

Ora aqui está uma coisa que eu, sinceramente, já não me lembrava, mas agora revivendo esses dias e revendo o programa assumo que é uma atitude que se tornou intrínseca desde aí.

Ainda hoje em dia, qualquer motivo que me faça chorar, faz-me verter essas duas lágrimas e já está. As outras são só minhas e não as deito cá para fora.

Contudo acho que não perdi a capacidade de chorar...

Nem nunca perdi muito tempo a pensar no porque é que não consigo chorar como deveria ou como seria de esperar. Cada pessoa tem o seu tempo... e os seus porquês...
Sei que sempre fui muito pragmática e que assim como naquele mesmo dia perguntei pela primeira vez a uma médica quais seriam as hipóteses do meu filho ficar com Paralisia Cerebral, em dias posteriores e ainda mais angustiantes que vivemos, voltei a colocar muitas outras questões a outras médicas.
Sempre, mas sempre mantendo a maior serenidade possível. De tal forma que os profissionais de saúde pensavam que eu e o meu marido não "batíamos bem da cabeça" e que "não percebíamos o que se estava a passar" - como nos disseram passados alguns meses de convivência obrigatória (naqueles primeiros e longos 5 meses e meio que passámos a viver numa Unidade de Cuidados Intensivos quando o Principezinho adquiriu a PC e a Doença Pulmonar, com prognóstico reservado).
Cedo soubemos que os nossos caminhos seriam sinuosos.
Com muito esforço, muita dedicação, muito empenho...
Mas sem faltar a Sinceridade, o Amor, a Alegria e a Fé!
Estes sim, são autênticos pilares do nosso modo de vida.
Graças a Deus que não caminhamos sós...

10 comentários:

Miu disse...

madrinha,
a minha dona diz que faltou o "endireitaste as costas"...

aaaaaaaaah e também mandou dizer que és um exemplo de vida e de postura perante ela e não é só pela mãe que és, é muito para além disso e vem muito lá do fundo!

que bom que existes!

Xu disse...

És taaaaaaaaaao forte q até das inveja .. irra!
Provavelmente eu n teria a tua capacidade de discernimento e de aparente trankuilidade ... és especial e sabe-lo.
Gostava de fazer ainda mais parte da vossa vida ... gostava!
Gosto de ti ás carradas!

Go disse...

Eu vi os vídeos do programa e fartei-me de chorar, mas porque ninguém estava a ver... no entanto, as vezes também penso que perdi a capacidade de chorar, principalmente quando se trata da minha filha, não sei porquê, mas tenho uma atitude semelhante, talvez porque não queira mostrar a minha fragilidade, e em certas situações é mesmo proibido...
Também porque a vida nos vai preparando para certas eventualidades e ficamos menos fracos.
Tem muito a ver com cada um, e como disseste, com muitos porquês...
Beijo muito grande

Dina disse...

Olá, olá

Eu vi a reportagem(na SIC online) e chorei...

E choro e falo, falo, falo muito...

Cada um lida com os sentimentos, com as emoções de forma diferente mas, acho impensável que alguém a possa julgar, por um segundo que seja, por não chorar...

Já escrevi várias vezes mas, a história do João Manuel toca-me profundamente e acho que é uma mulher fantástica, cheia de coragem, com principios e formação e uma fé inabalável...

Muitos beijinhos e que Deus permita que continuem todos juntos a lutar e a conseguir superar os obstáculos, por mais dificeis que sejam.

Grilinha disse...

Não querida.

Não caminham sós. Têm muita gente que vos ama porque são maravilhosos.
Beijos

Nala disse...

Nunca caminharás só....
Abraço

Catarina Moreira disse...

Ok!
São tuas.
Mas manda-as para fora, guarda-as numa caixinha se quiseres, mas deita-as cá para fora...
Sozinha, acompanhada...
não interessa
como te sentires melhor
não podes é deixar que o acumular de água salgada crie bloqueios no teu corpo, senão mais tarde ele vai lembrar-te disso...
Se precisares de um ombro...
os meus são pequenos, mas não se importam de ser totalmente encharcados.
Um beijinho

Mina disse...

Mãe Sisa
Não quer dizer, porque a fonte não brota, que está seca...
Cada um aprende a sua forma de libertar as emoções, não quer dizer que as "choronas", ou p'ra mim rsss, sintam mais...
bjocas

Egnalos disse...

CHORAR... sim é o nosso nome do meio... cada um o faz da sua maneira... em silencios profundos, num choro contido, num choro com toda a força e pujança! What ever! FAz bem tb!!!! Até choramos solidários com outros...

Bom, mas não era nada disto que eu queria aqui dizer... só queria dizer que estes episódios estão gravados e que AGRADEÇO A DEUS o apoio de TODOS os que vi à porta do hospital, nas ditas alturas e em especial ao pessoal do SHALOM... (tal como disse a alguns de vós...) BJS
E SIM... a minha irmã é uma grande MULHER E UMA ENORME MÃE!

Isabel disse...

Querida Sisa,

Sei bem o que é isso de largar 2 lágrimas, endireitar as costas, respirar fundo e seguir em frente.
És, de facto, um exemplo de coragem e de determinação, de força, de solidez.
Ainda bem que sabes que não estás sozinha. Nunca estarás.
Eu também estou por aqui, quando quiseres, quando precisares.
Apetecia-me apertar-te agora...
Beijo