quinta-feira, 15 de agosto de 2013

De Abril a Agosto



A vida passa depressa demais e sem novidades (boas).

O João não voltou à escola. Quando a pneumologista deu alta já o ano lectivo tinha terminado.

Considerei anular a matrícula dele. Com o estado de saúde dele como está e como sabemos que, infelizmente e inevitavelmente, desenvolverá não fazia muito sentido manter a matrícula... Mas lá me convenceram a manter e a deixá-lo ir à escola - que tanto prazer lhe dá - enquanto a saúde lho permitir.

Considerei também tirá-lo da escola regular e inseri-lo numa unidade especializada só com alunos com paralisia cerebral. Ele próprio recusou terminantemente a ideia. Adora conviver com outras pessoas portadoras de paralisia crebral, mas rejeita a ideia de sair da escola dele e de ficar numa escola só com deficientes. Quer o contacto com os outros - os "normais". Vivencia através das experiências deles como se fosse ele próprio a experimentar e não quer perder isso. É válido. Ele lá sabe. Tem discernimento suficiente para tomar (algumas) decisões que dizem respeito à vida dele.

Portanto, fica na mesma escola, com os mesmos colegas e, esperamos nós, com as mesmas professoras e assistentes operacionais.
As relações humanas são importantes. Não percebo porque é que as direcções teimam em mandar as pessoas saltitar de um lado para o outro quando é tão importante manter e consolidar aquilo que já começou a ser construído. Quando a estabilidade é tão importante para as pessoas, principalmente para estes miúdos cuja vida já é instável o suficiente devido a todas as suas condicionantes pessoais...

Devido à forçada abstenção pouco ou nada aprendeu, não acompanhou o grupo e não teve material pedagógico preparado para ele (além do que eu própria lhe proporcionei).

Pensei em "puxar" por ele agora nesta época estival em que o seu estado de saúde se esperaria mais estável. Mas nem os pulmões lhe têm dado o descanso esperado, nem eu própria estou motivada o suficiente para preparar materiais pedagógicos e trabalhar incessantemente com ele em casa, para que ele fique preparado para o novo ano lectivo. Afinal de contas, não sou professora. Sou mãe e sinto-me cansada.

O corpo continua frágil, mas cresce e muda. E com o crescimento crescem as dificuldades.

Não temos aproveitado o Verão como gostaríamos. Cada vez que sai de casa tem uma crise respiratória, cansa-se muito mais depressa e de forma muito mais difícil de estabilizar. E depois vêm as birras aliadas... Por isso, as saídas tornam-se cada vez menos. O que lhe faz mal a ele e a mim.

Entretanto, apesar de duvidar na sua frequência escolar, acredito que o sistema tem que mudar aquilo que não funciona devidamente. E essa mudança passa obrigatoriamente por reclamações. Por isso reclamei a não-adaptação/adequação dos manuais que a escola recebeu para ele. 
Considero discriminatório o que o Centro de Recursos da Direção Geral de Educação fez ao enviar os manuais escolares em formato digital (pdf) tal como lhes foram enviados da editora. Nem sequer são ficheiros editáveis. 

As próximas reclamações também já estão na calha:
-  a inexistência de lugares reservados a deficientes à entrada da escola. 
Deveria ser lógico, pelo menos nas escolas com Unidades de Apoio à Multideficiência, haver, no mínimo, um lugar com este fim. Mas não há, por isso há que reclamar.

- a recusa em transportar um aluno com dependência de oxigénio... Esta tem pano para mangas!


1 comentário:

sonia lourenço disse...

Um bjnho de força que às vezes, nós mães precisamos. Considere-o dado. Força e tudo de bom, dias melhores hão-de vir, concerteza.